Thursday, March 09, 2006

O futuro do Pretérito


Na foto, a diva Kate Moss, que deixou de se mostrar impecável como modelo e manequim, para se tornar pessoa, assumindo em público a luta contra o vício e a hipocrisia londrina.
O texto abaixo é da jornalista Katiuscia Zanatta pós-graduada em Moda, publica artigos no site santamoda.com.br. Tudo de bom.

A moda pede para serem quebradas todas as barreiras, diz-se moderna, irreverente. Mas pouca coisa do que se vê é uma novidade para olhos que vasculham o inusitado. Na verdade, talvez o pós-moderno na moda seja mesmo essa história de aceitar que tudo já foi feito. Rendas, babados, apliques, néon, corte impecável, cabelo à la garçonne. Os estilos se revezam na passarela, ano após ano.

São as obviedades de um mundo saturado de informação. Todo mundo quer criar o que não existe, e pra isso vasculha o antigo, revira baús. E juram que sai uma coisa nova, "revisitada", com cheiro de modernidade. Mas estou pra ver quem apenas diga criar uma roupa bonita, que tenha a ver com a personalidade e o tempo de alguém e se encaixe em certa ocasião. Porque, na verdade, moda é isso, é tudo um pouco, é o que a gente usa todo dia e é o nada, ao mesmo tempo, que faz o nu. É o retrato de um tempo, pois se junta a informação toda e se constrói uma teia. Nos primórdios do estilismo, a obra era assinada e o que valia era sair por aí com aquela chancela na gola, no punho, nos babados. E gritar pra todo mundo de quem era aquela criação.

Hoje, os estilistas pensam o novo, criam algo diferenciado – porque diferente não existe, certo? Nada se cria, tudo se.... – e a massa sai por aí completamente hype, mas com blusinhas compradas na outlet, na loja de fábrica, na rua do comércio. Se antes era chique ter a peça genuína, hoje é melhor ainda conseguir estar na moda sem gastar muito. E mais, hoje, somos estilistas de nós mesmos.

Perguntando a uma menina que usava um cachecol de lã em pleno verão de São Paulo 40 graus, fui surpreendida com um "faz parte do meu estilo, eu quero ser diferente". É claro, depois que a roupa desfilou pela rua estreita da passarela, ficou obsoleta! Já era! Passou!

A moda dá de ombros para o relógio e o calendário. Na verdade, vendo aquela gente toda correndo de um lado para o outro, aprontando peças, armando cenários, criando máscaras, me parece que hoje a moda é a própria engrenagem do tempo. Ela acelera o mundo. Será?

O próprio Herchcovich, ao ser questionado sobre a coleção que mostrou no SPFW, disse: o inverno já passou, agora estou pensando no verão 2005. Lá na frente é que está o barco. E nesse mundo em que vivemos em busca de mais tempo, de aproveitar melhor o momento pra se pensar que viveu mais, a moda ousa fingir que não há tempo pra nada, e que ele, nesse instante, já passou.

E os estilistas aceitam um novo papel, o de costureiros da teia de informações de seu tempo – escolhendo os matizes com que se vai pintar uma geração. De resto, é pensar na próxima coleção. Dá uma certa euforia ver aquela gente toda no evento de inverno perguntando: "você sabe o que vai ser do verão?". Que venha o inevitável futuro do aqui e agora.

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

essa coisa do tempo me deixa louca, não encontro ele em lugar nenhum! náo sei se a moda acelera o mundo, mas que ela é parte cada vez mais espelho desse processo, isso sim.

9:43 AM  
Anonymous Anonymous said...

uau.. kate é linda mesmo. Que coisinha mais gostosa com esse cabelo curto e os peitinhos bem naturais. Tudo!

12:44 PM  
Anonymous Anonymous said...

Kate Moss é para mim uma das modelos mais perfeitas. E o que é essa foto? Ah, essa foto...

2:02 PM  
Anonymous Anonymous said...

...legal esse texto heim. Vc quer fazer um curso de moda, carol? fala comigo depois, kiss!

5:44 AM  
Anonymous Anonymous said...

estamos de frente a um tempo em que tudo se mistura, tudo tem pressa e todo mundo acha que ninguém tem mais razão... por um lado, é chato, né?

3:33 PM  

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