Thursday, March 16, 2006

Roupa que esconde. Roupa que mostra.


Qual é a sua identidade?

Preciso pensar em alguma?

Na foto, de cinza e prata, os “príncipes” de Alexandre Herchcovitch trajam armaduras estilizadas no SPFW Coleção masculina de Inverno.



O psicanalista J. C. Flügel, considera que existem três razões principais que levam a humanidade a dedicar energia e interesse ao vestuário: decoração, pudor e proteção.

Para ele, quanto à decoração e ao pudor, nossa atitude em relação às roupas é ambivalente. Ao mesmo tempo em que, por um lado, desejamos nos enfeitar e nos mostrar, por outro, queremos nos esconder, passar desapercebidos, coisas opostas.

Assim, a moda tentaria conciliar duas coisas inconciliáveis: expor e valorizar o físico e, ao mesmo tempo, deixar o pudor em segurança. Por isso, segundo Flügel, a moda tem tentado se manter sempre como um compromisso entre a modéstia e o erotismo.

Nossa atitude em relação à moda também é ambivalente quando se trata especificamente da questão da distinção.

Ao adotar continuamente aquilo que está na moda as classes mais abastadas dão visibilidade ao poder e ao dinheiro que possuem. Como afirma Pierre Bourdieu, aos dominantes “basta-lhes ser o que são para saber o que é preciso ser, isto é, naturalmente distintos daqueles que não podem fazer a economia da busca da distinção”.

Assim, o consumo das roupas da moda se constituiria, conforme Bourdieu, em um capital simbólico, uma vez que as diferenças entre os grupos estão inscritas, antes de tudo, na própria estrutura do espaço social. Para aqueles que são obrigados a fazer a economia da busca da distinção, o desejo constante de se afirmar socialmente leva ao consumo contínuo dos produtos da moda, mantendo estável o mercado que dela se alimenta.

Ou seja, nossa relação com a moda passa por uma necessidade de integração ao grupo a que pertencemos. Mas, ao mesmo tempo, daí a ambivalência, também podemos utilizar a moda para, integrados ao grupo a que pertencemos, exibir nosso estilo pessoal, nossa marca, distinguindo-nos do resto do grupo, sem rompermos radicalmente com ele.

Cabe mencionar que o fato de aderirmos à moda ou repudiá-la traz em si questões mais sutis. A não adoção da moda — que, obviamente está longe de revelar desinteresse pelo tema — muitas vezes não se relaciona a uma impossibilidade econômica de adotá-la, mas a uma necessidade de transgredir a partir do vestuário, transgressão que muitas vezes acaba estimulando tendências e criando novas modas.

É, pelo jeito, não há saída! O desenvolvimento da moda acompanha nossa evolução (palavrinha presunçosa, né?) pessoal e profissional e reflete mudanças culturais e sociais de um povo em diferentes épocas.

Considerações baseadas no texto da historiadora Maria do Carmo Teixeira Rainho.

Quer ler mais? Confira:
Fontes bibliográficas citadas nos textos “Por que amamos a moda?” e "Moda na classe A e B e nas classes C, D, E":
ROCHE, Daniel. História das coisas banais Lisboa: Difel, 1998. p. 2202 LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.3
ROCHE, Daniel. La culture des apparences - une histoire du vetêment XVIIe - XVIIIe siècle. Paris: Fayard, 1989. p. 394
FLUGEL, J. C. Le rêveur nu – de la parure vestimentaire. Paris: Aubier Montaigne, 1982.5
BOURDIEU, Pierre. "Fieldwork in philosophy" em: Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 23-24

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Adorei a parte:
"Nossa relação com a moda passa por uma necessidade de integração ao grupo a que pertencemos. Mas, ao mesmo tempo, daí a ambivalência, também podemos utilizar a moda para, integrados ao grupo a que pertencemos, exibir nosso estilo pessoal, nossa marca, distinguindo-nos do resto do grupo, sem rompermos radicalmente com ele". Resume tudo. Abafou!

12:52 PM  
Anonymous Anonymous said...

ai... adoro alexandre! Linda essa foto de costas! Príncipes, com certeza!

12:53 PM  
Anonymous Anonymous said...

Nossa, quanta coisa pra ler! Vou pirar! Manda mais! rsrs Beijos!

11:45 AM  

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