São as obviedades de um mundo saturado de informação. Todo mundo quer criar o que não existe, e pra isso vasculha o antigo, revira baús. E juram que sai uma coisa nova, "revisitada", com cheiro de modernidade. Mas estou pra ver quem apenas diga criar uma roupa bonita, que tenha a ver com a personalidade e o tempo de alguém e se encaixe em certa ocasião. Porque, na verdade, moda é isso, é tudo um pouco, é o que a gente usa todo dia e é o nada, ao mesmo tempo, que faz o nu. É o retrato de um tempo, pois se junta a informação toda e se constrói uma teia. Nos primórdios do estilismo, a obra era assinada e o que valia era sair por aí com aquela chancela na gola, no punho, nos babados. E gritar pra todo mundo de quem era aquela criação.
Hoje, os estilistas pensam o novo, criam algo diferenciado – porque diferente não existe, certo? Nada se cria, tudo se.... – e a massa sai por aí completamente hype, mas com blusinhas compradas na outlet, na loja de fábrica, na rua do comércio. Se antes era chique ter a peça genuína, hoje é melhor ainda conseguir estar na moda sem gastar muito. E mais, hoje, somos estilistas de nós mesmos.
Perguntando a uma menina que usava um cachecol de lã em pleno verão de São Paulo 40 graus, fui surpreendida com um "faz parte do meu estilo, eu quero ser diferente". É claro, depois que a roupa desfilou pela rua estreita da passarela, ficou obsoleta! Já era! Passou!
A moda dá de ombros para o relógio e o calendário. Na verdade, vendo aquela gente toda correndo de um lado para o outro, aprontando peças, armando cenários, criando máscaras, me parece que hoje a moda é a própria engrenagem do tempo. Ela acelera o mundo. Será?
O próprio Herchcovich, ao ser questionado sobre a coleção que mostrou no SPFW, disse: o inverno já passou, agora estou pensando no verão 2005. Lá na frente é que está o barco. E nesse mundo em que vivemos em busca de mais tempo, de aproveitar melhor o momento pra se pensar que viveu mais, a moda ousa fingir que não há tempo pra nada, e que ele, nesse instante, já passou.
E os estilistas aceitam um novo papel, o de costureiros da teia de informações de seu tempo – escolhendo os matizes com que se vai pintar uma geração. De resto, é pensar na próxima coleção. Dá uma certa euforia ver aquela gente toda no evento de inverno perguntando: "você sabe o que vai ser do verão?". Que venha o inevitável futuro do aqui e agora.